domingo, 2 de outubro de 2011

Gordinho da Honda

Vamos lá.
Pra inaugurar o blog, escolhemos uma propaganda de motocicletas. Motos em alta velocidade, mostrando o vento batendo na cara de uma pessoa descolada? Várias mulheres olhando pro cara que pilota a moto?

NÃO! Nada disso.

Criado pela DM9DDB em 1994, como toda propaganda da Honda, foi veiculada em horário nobre.
Bem simples. Um fundo preto e um gordinho, que foge do padrão de beleza estabelecido para estrelar um comercial, vestindo uma camiseta preta, cantando uma música grudenta: “Eu acordei, peguei meu pijama, fui pra minha cama, e depois dormi”, ilustra bem o conceito “A vida tem que ser mais do que isso”.

Em 1994, o Brasil passava por mudanças econômicas muito fortes. Vindo de uma inflação que atingiu, entre julho de 1965 a junho de 1994, mais de 1 quatrilhão por cento, passando por moedas de vários nomes e, quando a inflação aumentava, retiravam zeros das moedas. Mas como assim? Simples.

Usando uma moeda brasileira antiga como, por exemplo, o Cruzado, que vigorou no Brasil em 1986, fazia-se assim. Por exemplo, se um pãozinho custava 1 cruzado (cuja cifra era Cz$), após um tempo, com a inflação altíssima, o mesmo pãozinho passaria a custar Cz$1000,00. Nossa, que valor alto pra um pãozinho. O que fazer? Simples, cortam-se três zeros desse número e muda-se o nome da moeda pra uma coisa tipo “Cruzado Novo”, e essa pãozinho passava a custar NCz$1,00 (Um cruzado novo). Super criativo.

Em 1994, tudo era recente. Uma nova democracia se estabeleceu no país poucos anos antes, acabou-se com a inflação altíssima e finalmente o povo adquiriu poder de compra.

Mas nem tudo em 1994 foram flores. O Brasil perdeu seu maior ídolo, o piloto de Fórmula1, Ayrton Senna da Silva. Não vou saber especificar se essa propaganda da Honda foi criada depois da morte de Senna, mas algumas coisas me levam a acreditar que sim, como, por exemplo, o motivo de não colocar uma moto em altas velocidades e fazer uma propaganda divertida e leve. O brasileiro precisava de coisas suaves, o brasileiro precisava de conquistas.

Nisso veio a Copa do Mundo de Futebol dos Estados Unidos.

Imaginem um país desolado, sem esperança, com seu maior ídolo recém falecido e com um time de futebol que não ganhava uma copa do mundo há 24 anos. Em minha opinião, o que se viu em 1994, foi um show. O Brasil conquistou a copa do mundo com méritos e pronto, ídolos surgiram e todos puderam bater no peito e ter orgulho de dizer que sim, eram brasileiros.

O público identificou-se rapidamente com o gordinho, por ele fazer parte de um grupo de “pessoas comuns” e a propaganda foi um sucesso.

Afirmo, sem pestanejar, que essa foi uma das minhas maiores influências para querer fazer propaganda.



Ficha técnica:
Título: Monotonia.
Criação: Nizan Guanaes
Direção de criação: Nizan Guanaes e Camila Franco
Agência: DM9
A
tor: Paulo Sergio Berti

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